Estudo Bíblico – Pr. Valério Oliveira
Ensinamentos das parábolas de Jesus
Mateus 13.10-17
10 E acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?
11 Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado;
12 Porque àquele que tem se dará, e terá em abundância; mas aquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.
13 Por isso, lhes falo por parábolas, porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendem.
14 E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis e, vendo, vereis, mas não percebereis.
15 Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviu de mau grado com seus ouvidos e fechou os olhos, para que não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e compreenda com o coração, e se converta, e eu o cure.
16 Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.
17 Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não o viram, e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.
INTRODUÇÃO
Segundo Klyne Snodgrass: “O objetivo imediato de uma parábola é ser algo bastante atraente e, ao ser atraente, ela redireciona a atenção e desarma o ouvinte. O objetivo final de uma parábola é despertar uma compreensão mais aprofundada, estimular a consciência e levar os ouvintes a uma ação”. As parábolas de Jesus apresentam uma abrangência muito grande de ensinamentos, e conduzem o estudante a reflexões profundas das coisas espirituais. Suas proposições diferiam daquilo que enfatizavam os rabinos, pois o Mestre dos mestres tratava das questões espirituais, tais como o reino de Deus, a hipocrisia religiosa, a graça, o amor de Deus, a importância da oração etc. Nesta lição trataremos sobre a definição de parábola, suas características e sobre os grandes temas abordados por Jesus.
O QUE SÃO PARÁBOLAS?
Definição de parábola
Segundo o Dicionário de língua portuguesa Houaiss, “parábola é a narrativa que transmite um ensinamento moral”. SchÖkel, no Dicionário Bíblico Hebraico-Português, define o termo māshāal (parábola), da seguinte forma: “Provérbio, refrão, copla, parábola, canção, estribilho, sátira, epigrama, fábula”. Strong apresenta o seguinte significado: “Parabolē [grego] é uma narrativa, fictícia, mas apropriada às leis e usos da vida humana, pela qual os deveres dos homens ou as coisas de Deus, particularmente a natureza e história do reino de Deus, são figurativamente retratados”. Numa visão semântica, parábola envolve outros vocábulos relacionados às figuras de linguagem e figuras de pensamento, como definido acima, incluindo, alegorias e metáforas. Para melhor compreensão, é importante que o estudante tenha familiaridade com a cultura da época para melhor compreender essas narrativas.
A importância das parábolas
Jesus, mais do que qualquer outro mestre, apropriou-se do uso de parábolas para transmitir Seus ensinamentos. Os estudiosos afirmam que cerca de um terço dos ensinamentos de Cristo foi feito por meio de parábolas. O Dr. Champlin diz que “encontramos 41 parábolas de Jesus. O evangelho de Mateus contém 23 delas, 10 das quais não se encontram em nenhum dos outros evangelhos. O evangelho de Marcos contém apenas 8, e apenas uma que os outros não registraram – a parábola da semente em crescimento (Mc 4.26-29). Lucas foi o que melhor preservou as parábolas, contém 30, 16 das quais foram registradas exclusivamente por ele”. As parábolas são de grande importância para a edificação dos estudiosos da Palavra de Deus, mas devem ser analisadas com critério, sob a iluminação do Espírito Santo (1Co 2.10). Stein afirma: “Devemos centralizar nossa atenção na analogia básica da parte fictícia e seu ponto correspondente na parte real”.
O teor das parábolas de Jesus
É sabido por muitos que as parábolas, de modo geral, apresentam ensinamentos para a vida prática. Os mestres, desde a antiguidade, usavam as parábolas para ajudar a construir bons cidadãos, formar profissionais competentes, colaborar na construção de bons pais e boas donas de casa etc. No entanto, o Senhor Jesus apropriou-se do uso de parábolas para ensinar as coisas espirituais. Osborne diz que “parece claro, que Jesus tinha, de fato, um objetivo maior ao usar parábola. As parábolas são um ‘mecanismo de confrontação’ e funcionam de modos diferentes dependendo do público”. Assim, para os incrédulos, as parábolas os confundem e os deixam aquém do conhecimento divino, enquanto para aqueles que abrem o coração para entender a Palavra de Deus, são edificados, pois conseguem ver “as maravilhas da lei do Senhor” (119.18).
AS CARACTERÍSTICAS DAS PARÁBOLAS
Os enigmas das parábolas
Embora Jesus usasse, no Seu discurso, as coisas que faziam parte do dia a dia dos ouvintes, como semente, terra, pedra, peixe, pão, tesouro etc., todavia, Ele apresentava mensagens espirituais de difícil compreensão. Algumas são enigmáticas, como a do mordomo infiel, outras mais fáceis de assimilação, como a dos 2 fundamentos. Mateus explicita que Jesus começou a falar por parábola após ter sido rechaçado pelos escribas quando combateu a superioridade das tradições e a má interpretação da guarda do sábado. Osborne diz que “nas controvérsias com os líderes e com o Israel incrédulo, uma grande parte desse objetivo [objetivo das parábolas] era esconder a verdade deles. Esse era um julgamento divino sobre o Israel teimoso, comparável ao julgamento do Faraó e ao da nação apóstata nos dias de Isaías”.
Efeitos para o público resistente
O Senhor Jesus fez uso do texto de Isaías em razão de ele ter enfrentado a mesma oposição do profeta. Isaías foi chamado por Deus para falar a uma nação “rebelde e contumaz”, e sua mensagem visava endurecer o coração do povo de Israel, a fim de que o julgamento divino se cumprisse conforme vaticinado “[…] não venha ele a ver com seus olhos, e a ouvir com seus ouvidos, e a entender com o seu coração, e a converter-se, e a ser sarado” (Is 6.10). Tal situação pode explicar o que escreveu o apóstolo João: “há pecado para a morte e por este não digo que ores” (1 Jo 5.16). A pregação de Isaías tinha objetivos: “[…] até que se assolem as cidades, e fiquem sem habitantes, e nas casas não fique morador, e a terra seja assolada de todo” (6.11). Deus havia feito muitas promessas a Israel, mas o povo de Deus teria que se submeter a obediência aos mandamentos do Senhor, caso contrário, o castigo seria muito severo, como encontramos nos capítulos 26 de Levítico e 28 de Deuteronômio. Resistir a Palavra de Deus determina a punição própria da desobediência (Sl 68.6; Lc 13.3). Por esta razão, devemos ser receptíveis à Palavra de Deus e vivenciá-la para que não caiamos na mesma situação dos oponentes de Jesus.
Edificação para os filhos do reino
Enquanto os incrédulos e resistentes aos ensinamentos de Jesus ficavam vagueando quanto ao entendimento do verdadeiro sentido das parábolas, os discípulos recebiam explicações particulares: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado. Porque àquele que tem se dará, e terá em abundância, mas aquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado” (Mt 13.11,12). Os filhos de Deus têm o privilégio de receber as coisas ocultas aos incrédulos: “As coisas que o olho não vi, e o ouvido não ouvi, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam” (1Co 2.9).
GRANDES TEMAS DAS PARÁBOLAS
Aspectos do reino de Deus
São diversos os temas encontrados nas parábolas de Jesus, tais como princípios éticos, a importância da oração, o perigo das riquezas, a falsa religião, a volta de Jesus etc. Neste tópico serão abordados 3 temas: aspectos do Reino de Deus, a hipocrisia da religiosidade e o amor de Deus pelos homens. Quanto ao aspecto do reino de Deus, vale ressaltar que Jesus deu grande atenção a esse tema, devido à grande importância da implantação do Seu reino na terra, o qual, de modo invisível, está presente (Lc 17.20, 21) para trazer justiça, paz e alegria (Rm 14.17). Na oração do “Pai Nosso”, Jesus ensinou a pedir o Seu reino (Mt 6.10). Isso indica que ao pedir o reino de Deus, estamos pedindo o senhorio de Deus, e consequentemente, as bênçãos do seu reino. Bill Johnson diz que “o reino é o domínio do Rei; domínio implica autoridade e senhorio. Jesus veio oferecer os benefícios do Seu mundo a todos os que se submetem ao seu governo”. É claro que um dia, o reino de Deus será implantado visivelmente e manifestará a glória de Deus em toda terra (Is 11; Zc 14.1-8; Ap 19.16; 20.5)
A hipocrisia da religiosidade
A Bíblia diz que Jesus veio cumprir sua missão, exatamente na plenitude dos tempos (Gl 4.4). Uma jovem foi escolhida para ser a mãe do Messias; as estradas haviam sido abertas para melhor circulação do evangelho; a língua grega tornara-se um idioma falado em grande parte do mundo, facilitando a pregação do evangelho; o descrédito na crença aos deuses pagãos estava no seu apogeu; enfim, diversos fatores diziam que a hora da vinda do Messias era chegada. No entanto, o povo que deveria receber o Salvador com muita alegria, não estava disposto a aceitá-lo como seu Senhor e Salvador: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1.11). Por essa razão, Jesus proferiu algumas parábolas condenando a falsa religião, além de condenar veemente, com discurso direto e agressivo, os líderes religiosos (Mt 23.13-36).
O amor de Deus pelos homens
Jesus, tanto proferiu parábolas, como também transmitiu profundos sermões sobre o amor de Deus. Sua vida foi marcada por acontecimentos que revelam o verdadeiro amor do Pai. Ele não fazia distinção de pessoas, e por isso foi criticado pelos líderes religiosos, pois dormia na casa de publicado e comia com aqueles que eram tidos como “escória da sociedade”. Nas 3 parábolas conhecidas como “as parábolas das coisas perdidas”, o Senhor dá ênfase ao amor de Deus, revelado na busca da dracma perdida, na procura da ovelha desgarrada e na espera do filho pródigo. Na verdade, o amor de Deus é a razão de todas as bênçãos disponíveis à humanidade. Ao mundo, Ele deu Seu Filho Unigênito (Jo 3.16), aos crentes, ele os abençoou com todas as bênçãos espirituais (Ef 1.3-14).
CONCLUSÃO: Nesta lição aprendemos que as parábolas de Jesus apresentavam 2 objetivos principais: endurecer o coração dos que não estavam dispostos a buscar a Deus e proporcionar grandes ensinamentos aos discípulos. Às vezes, as parábolas se tornavam misteriosas para os próprios discípulos, pois havia a necessidade de raciocinar bastante. Os próprios discípulos acharam melhor quando Jesus deixou de usar parábolas: “Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que, agora, falas abertamente e não dizes parábola alguma. Agora, conhecemos que sabes tudo e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saístes de Deus” (Jo 16.29,30). No entanto, como diz Cheung: “Se Deus abriu sua mente para a sua Palavra (At 16.14), então você irá sincera e diligentemente buscá-lo, pensando seriamente sobre as Palavras das Escrituras, e esse é o meio pelo qual Deus lhe concederá mais entendimento espiritual, como escreveu Paulo: ‘Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo” (2Tm 2.7).
Referência bibliográficas
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